sexta-feira, 29 de março de 2013

DESABRIGADOS CUBATENSES DENUNCIAM MAUS TRATOS E DESVIO DE DOAÇÕES

por Luana Fernandes Comentar

“Ainda bem que estou indo embora. Se o pessoal não começar a sair vai ficar doente”, comemora a pensionista Cleonice Santos Silva ao sair do Centro Esportivo Castelo Branco (Castelão), em Cubatão, que conseguiu alugar uma moradia para ela, um filho e um neto. “As pessoas estão passando muito mal por causa da comida. Além disso, o pessoal da Prefeitura maltrata a gente. Agora mesmo eu estava juntando as minhas coisas e uma delas me disse ‘some daqui, já vai tarde’”, denunciou a pensionista.

Ontem (28), a Prefeitura de Cubatão e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) começaram o pagamento de auxílio moradia às 249 famílias que estão alojadas nos dois abrigos do Município - no Castelão e na Associação Cubatense de Defesa dos Direitos das Pessoas Deficientes (ACDDPD). Todos receberão um primeiro pagamento de R$ 1.200,00. Nos próximos meses, o benefício será de R$ 400,00. As famílias começaram a sair dos abrigos.

Diferente de Cleonice, que se mudou na tarde de ontem, a auxiliar de limpeza Cassiana Santos só irá se mudar na segunda-feira, dia 1º de abril. “O cheque ainda não veio. Estou na lista de espera”, afirma. Questionada sobre as condições do abrigo improvisado, Cassiana conta que só a limpeza deixa a desejar. “Nunca me deram material de limpeza para limpar nada e nunca vi ninguém lavando o banheiro”, conta.

Denúncia

A cozinheira Marli Aparecida de Jesus também está abrigada no Castelão e se diz cansada da situação em que vive. “O abrigo está um lixo e a comida é horrível. Tem marmita que vem arroz, feijão e um ovo cozido. Vem comida estragada, comida com cabelo”, reclamou.

Segundo a cozinheira, as doações não chegam aos desabrigados. “Nós sabemos que a Natura, a Demillus, doaram e a gente não recebeu nada. O Neymar doou colchões de casal, mas só recebemos colchões de solteiro. A viação Cometa chegou aqui com um ônibus cheio de doação, encaminharam o motorista para o Anilinas. Eu vi o ônibus descarregando as coisas lá, mas não chegou nada para a gente”, denuncia.

Famílias tentam se organizar no ginásio do centro esportivo (Foto: Matheus Tagé/DL)

Marli conta ainda que não recebe informações concretas por parte da Prefeitura. “A prefeita nos visitou, sentou no chão, tirou o sapato, mas não disse nada. Falou sobre um cheque que a gente vai receber. Não tenho como alugar um lugar por R$ 400”, afirma a cozinheira.

A prefeita Marcia Rosa e sua equipe estiveram no Castelão no último domingo, dia 24, conversando com as famílias desabrigadas para esclarecer algumas dúvidas, como o auxílio-moradia.

Prefeitura

Segundo a Administração Municipal, a comida fornecida aos desabrigados segue o cardápio produzido por nutricionistas. Os alimentos vêm das doações realizadas e do estoque da Prefeitura. Garantem ainda que não há desvio de doações.

“Os produtos recebidos na Escola do Anilinas são separados e catalogados, sendo emitido um recibo para o doador. A entrega é feita para as famílias cadastradas pela Secretaria de Assistência Social e todo o processo é supervisionado pela Cruz Vermelha”, informa. A Prefeitura informa ainda que, conforme orientação da Cruz Vermelha, a limpeza do abrigo deve ser feita pelos abrigados, que contam com apoio de funcionários da Prefeitura.

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