25 MARÇO 2013 (BR-SP) Carta aberta de um
professor de Cubatão à dep. Telma de Souza (PT)
26 de março de 2013
Categoria: Movimentos em Luta
Categoria: Movimentos em Luta
Cubatão, 25 de março de 2013.
Senhora Deputada Telma de Souza,
Tenho de vossa excelência a lembrança
de duas frases e dois momentos. Em 1989, iniciado no movimento estudantil na
Escola Técnica Federal de Cubatão, por absoluto empobrecimento político de
minha cidade, estive presente à posse de vossa excelência como prefeita de
Santos.
Recordo como me emocionei quando ouvi
V.Excia. anunciar para mim uma nova era na Baixada afirmando que a sede da
Prefeitura de Santos era, daquele momento em diante, “casa do povo. A casa de
todos”. Eu estava lá e a emoção daquele momento marcou profundamente minha
opção política.
Acabo de ver o vídeo público da
Comissão de Educação da Assembleia Legislativa. Nele, com dever que V.Excia.
possui à fidelidade com vosso partido, a Senhora tenta obstruir o convite à
vossa colega Márcia Rosa, Prefeita de Cubatão/SP pelo PT, para prestar
esclarecimentos sobre a perseguição política sórdida que a mesma está
engendrando contra 12 professores da Rede Municipal de Ensino.
Sou um desses 12 professores e fomos
recebidos por V.Excia, como é evidente que é de vosso conhecimento e, naquela
ocasião, pudemos apresentar outros fatos para o referido processo. Pudemos
inclusive relatar as ações de perseguição política para além do processo
administrativo.
Lembro-me de que a Senhora chorou.
Lembro-me de que a Senhora debateu conosco sobre as responsabilidades do poder.
Lembro-me de que a Senhora disse que a prefeita Márcia Rosa não é uma pessoa
fácil de dialogar, mas que tentaria construir uma ponte para o diálogo do qual
os 12 nunca abriram mão.
Deputada, o meu assombro diante de
seu comportamento no vídeo público da ALESP é baseado em um princípio que
nenhuma condição política pode abrir mão: a coerência.
Não nos recebesse. Recebesse e
dissesse que se inteiraria do processo. Dissesse que seria fiel às orientações
do Partido. Dissesse qualquer coisa que não fosse o desejo de construir ponte
em margens que V.Excia. já sabia desgastadas.
Temos sido processados, tivemos nossa
condição de trabalho extinta, somos diariamente difamados como vagabundos pelas
redes sociais, somos perseguidos (como é de vosso conhecimento ), mas não fomos
procurar V.Excia, para, tempo depois, ver que V.Excia agiu com falsidade e sem
coerência. A ponte que a Senhora cita em seu depoimento totalmente sem
informações, é a Ponte Preta, uma ruína que já estava condenada e interditada
pela Prefeitura. Mas a verdadeira ponte que se rompe neste momento é entre a
ideologia que alicerçou o Partido dos Trabalhadores e a concretização de
governos arrogantes e ditatoriais e o uso, cada vez mais frequente, da baixa
demagogia que era privilégio da direita. Demagogia que brota da falta de
coerência em vossa atitude, em relação ao caso em debate.
Vossa Excelência, ao contrário do que
diz no vídeo, SABE que não foi nenhum dos professores processados que quebrou a
porta EXTERNA do gabinete público da Prefeitura Municipal de Cubatão (e não a
casa particular da Senhora, ex-professora, Márcia Rosa). Portanto, V.Excia.
parece ter faltado com a verdade e isso é, para muitos de nós, imperdoável.
A ponte que se rompeu é a ponte do
Partido dos Trabalhadores que, na Baixada Santista está tão distante de seus
ideais quanto se distancia, cada vez mais do poder que não soube administrar e
por isso se transforma, em nossa região, em um fiasco das urnas.
Vosso Partido, na defesa insana de
uma prefeita despreparada e tomada pelo demônio da vaidade caminha para o
desterro na Baixada e atitudes como a que V.Excia assumiu (ou não assumiu)
motiva esse desterro.
Traídos os ideais e distanciados dos
princípios, creio que não será possível, para os professores que trabalham em
Cubatão, acreditar em outros colegas professores representados pelo desejo de
poder que Márcia Rosa encarna.
Finalmente, lembro-me de uma outra
frase de V.Excia. Foi proclamada em uma reunião de transição, quando da posse
de Márcia Rosa. Eu também estava lá, até porque participei do início do governo
e dele me afastei por perceber isso tudo que aqui relato.
Disse V.Excia: “Mexeu com a Márcia,
mexeu comigo”. Lamento apenas que V.Excia, tenha perdido a capacidade de
compreender que na verdade, no exercício político, a frase mais apropriadamente
ética seria “mexeu com injustiça, com a liberdade de expressão, mexeu com o
Estado Democrático de Direito, mexeu com todos nós”.
Lamento, portanto informá-la, de que
sou parte dessa história e dela não deixarei seus atores se esquecerem dela tão
cedo.
Com profundo pesar
Fabio Gonçalves Ferreira
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